O líder da oposição Edmundo González Urrutia, vencedor das eleições de acordo com os registos eleitorais, regressa ao país esta sexta-feira para tomar posse como presidente. Mas Nicolás Maduro ameaça prendê-lo quando pisar solo venezuelano.
Um dia histórico em que o futuro da Venezuela será decidido, após mais de duas décadas de governo chavista. Pela primeira vez, a oposição conseguiu demonstrar a sua vitória nas urnas, publicando os resultados das eleições e contradizendo o resultado oficial apresentado pelo Centro Nacional Eleitoral, um organismo nas mãos de Nicolás Maduro.
Este facto levou acomunidade internacional areconhecer amplamente o líder da oposiçãoEdmundo González Urrutia como presidente eleito. A partir daí, iniciou-se uma onda de repressão, violência e detenções arbitrárias que poderá terminar esta sexta-feira, se o diplomata assumir o poder.
Edmundo González pode ser detido
No Palácio de Miraflores, sede da Presidência, não estão dispostos a fazer uma transição para a democracia. Nunca reconheceram a derrota e, longe de cooperar, emitiram um mandado de captura contra González, que esta sexta-feira pretende terminar o seu exílio em Espanha, depois de um périplo pelas Américas em que se reuniu com vários líderes que o apoiam, desde o argentino Javier Milei a Joe Biden.
A dupla investidura surge após uma escalada de tensão no país provocada pela detenção falhada da número dois de González, María Corina Machado. Nada de novo, ela sofreu um ataque orquestrado pelo chavismo durante a campanha eleitoral e houve várias tentativas de silenciar a sua voz. Não só a dela. Segundo o Foro Penal, há 1.794 presos políticos no país.
Como foi a detenção de María Corina Machado?
O líder do partido Vente Venezuela, José Rolón, deu mais pormenores sobre a detenção, numa entrevista ao canal internacional de notícias NTN24. "María Corina foi intercetada por 17 motas, carros blindados e drones, dispararam contra ela, e uma vez no chão, sequestraram-na", explicou.
Nicolás Maduro detém o controlo de todas as instituições e o apoio das forças armadas. Blindou o país para poder manter-se no poder. Enquanto isso, Edmundo González traçou uma estratégia, a partir do exterior, que permanece uma incógnita.
"Ainda tenciono regressar à Venezuela e assumir o cargo para o qual fui eleito", afirmou recentemente o líder da oposição, numa entrevista à RTVE. "A luta mundial pela liberdade e pela democracia tem epicentro na Venezuela", referiu, durante a sua digressão americana. É um cenário invulgar: dois homens pretendem assumir a presidência do país, um legítima e outro ilegitimamente.
Como planeado, Edmundo González estará em Caracas, acompanhado por vários antigos presidentes ibero-americanos. Os seus guardas têm também um mandado de captura chavista às costas. A questão é saber o que vai acontecer quando chegarem ao país. Há precedentes que apontam mesmo para um possível impedimento da aterragem, por parte do controlo do espaço aéreo, algo que aconteceu durante o processo eleitoral, quando um voo que transportava antigos presidentes latino-americanos que vieram supervisionar o processo foi impedido de aterrar.
A posição dos países ibero-americanos
Nesta ocasião, González será acompanhado, entre outros, pelos mexicanos Vicente Fox e Felipe Calderón, membros do Partido de Ação Nacional. A verdade é que Maduro já nem sequer tem o apoio dos atuais líderes latino-americanos de esquerda. O presidente do Chile garantiu que não há liberdade na Venezuela. "Eu sou uma pessoa de esquerda e da esquerda digo que o governo de Nicolás Maduro é uma ditadura", disse Gabriel Boric.
O Equador apoia a oposição e o presidente Daniel Noboa acusou Maduro de semear "morte e miséria" no país. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, aliado do chavismo, recusou-se a assistir pessoalmente à tomada de posse de Nicolás Maduro e enviará o seu embaixador.
Nicolás Maduro perde aliados
Também é notável a ausência dos governos do México e do Brasil, que têm sido mais brandos na condenação dafalta de democracia na Venezuela, mas que também não assistirão à tomada de posse teatral de Maduro.
Neste cenário, os únicos aliados que restam a Maduro são a Rússia, a China, o Irão, Cuba e Nicarágua. O presidente eleito dos EUA , Donald Trump, apelou ao respeito pela decisão soberana dos venezuelanos nas urnas. É a mesma posição adotada por Joe Biden.
Manifestações em todo o mundo
Entretanto, a diáspora venezuelana está a mobilizar-se e a sair à rua nas principais cidades do mundo: Paris, Miami, Nova Iorque e Madrid foram palco de manifestações a favor da democracia na Venezuela. Na capital espanhola, uma grande manifestação teve lugar na quinta-feira na Puerta del Sol, com a presença de vários líderes políticos, e não estão excluídos novos protestos esta sexta-feira.
"Pela liberdade e contra a tirania", mencionou o líder do Partido Popular nacional, Alberto Núñez Feijóo, na Puerta del Sol, acompanhado pela presidente da Comunidade de Madrid e sua colega de partido, Isabel Díaz Ayuso. "Agora só falta que as Forças Armadas dêem esse o em frente", referiu também. Por sua vez, o líder do VOX, Santiago Abascal, também presente na marcha, chamou Maduro de "usurpador" e disse que ele "deve cair". Todos criticaram o governo espanhol pela sua ausência.
Minutos depois destas manifestações, que decorreram por todo o mundo, teve lugar a mais importante: a de Caracas. Terminou com a detenção de María Corina Machado, que chocou o país e a comunidade internacional até à confirmação da sua libertação. Agora todos esperam que Edmundo González não tenha o mesmo destino.