Gisèle Pelicot, uma sobrevivente de abusos sexuais, é aclamada como um ícone nacional em França pela sua coragem em tribunal.
Uma petiçãoonline tornou-se viral depois de ter proposto, na ada quarta-feira, que Gisèle Pelicot fosse galardoada com o Prémio Nobel da Paz.
Pelicot tornou-se mundialmente conhecida por ter enfrentado o ex-marido e dezenas de outros agressores num julgamento de violação coletiva que chocou França e a transformou num ícone feminista.
Até agora, a petição já reuniu quase 90.000 s em menos de uma semana.
"Ninguém merece mais o Prémio Nobel do que Gisèle Pelicot", escreveu Catherine Mayer, uma jornalista britânica que iniciou a petição, na sua explicação para a iniciativa.
Durante quase uma década, o ex-marido de Gisèle Pelicot, Dominique Pelicot, de 72 anos, istrou-lhe sedativos e violou-a inconsciente, convidando homens que recrutou online a fazer o mesmo, sem o conhecimento ou aprovação da vítima.
No início de janeiro, foi detido o fundador do site utilizado por Dominique Pelicot para encontrar e ar com esses homens.
Gisèle Pelicot chamou a atenção dos meios de comunicação social ses e internacionais, bem como de grupos de defesa dos direitos das mulheres de todo o mundo, pela abertura e coragem que demonstrou no julgamento, que durou três meses, contra o ex-marido e 50 outros homens, depois de ter renunciado ao seu direito ao anonimato enquanto sobrevivente de abusos sexuais.
Gisèle Pelicot conseguiu que as audiências e as provas - incluindo os vídeos caseiros do ex-marido - fossem itidas em tribunal, tendo insistido que "a vergonha devia recair sobre os abusadores" e não sobre ela.
"Gisèle Pelicot conseguiu romper o nevoeiro da desinformação, abdicando do anonimato para comparecer no julgamento dos seus agressores e testemunhar", escreveu Mayer.
"Partilhamos a mesma luta"
O tribunal da cidade de Avignon, no sul do país, considerou Dominique Pelicot culpado de violação e de todas as outras acusações contra ele apresentadas em dezembro, condenando-o a 20 anos de prisão, pena máxima possível em França.
Os outros 50 homens considerados culpados da violação de Gisèle Pelicot foram condenados a penas que vão de três a 15 anos de prisão.
Após a sentença, Pelicot deixou uma mensagem de esperança.
"Quero que saibam que partilhamos a mesma luta. Quando abri as portas a este processo... Eu queria que a sociedade testemunhasse os debates que aconteceram aqui", referiu a sobrevivente.
"Confio agora na nossa capacidade para encontrar um futuro melhor onde todos, mulheres e homens, possam viver em harmonia, respeito e compreensão mútua."
Gisèle Pelicot foi nomeada Personalidade do Ano em França através de uma sondagem realizada no país em 2024, batendo líderes mundiais como o presidente francês, Emmanuel Macron, e o ucraniano Volodymyr Zelenskyy.
Em 2018, o comité do Prémio Nobel da Paz atribuiu um prémio conjunto - pela luta contra a violência sexual - ao ginecologista congolês Denis Mukwege e à ativista iazidi Nadia Murad.
A organização japonesa Nihon Hidankyo - um movimento popular de sobreviventes da bomba atómica de Hiroshima e Nagasaki - recebeu o prémio em 2024.