Todos os anos, a 25 de maio, o mundo junta-se para comemorar o Dia de África, uma data que transcende as fronteiras geográficas para celebrar não só a diversidade cultural e a riqueza natural do continente mais diverso do mundo, mas também a sua determinação em construir um futuro próspero e unido.
A história do Dia de África está profundamente enraizada nos movimentos de libertação que marcaram o século XX. O ponto de partida é 1958, ano em que se realizou pela primeira vez o Congresso dos Estados Africanos, uma reunião histórica onde representantes de vários países do continente se juntaram com uma determinação inabalável: libertarem-se de uma vez por todas do jugo colonial que tinha marcado séculos da sua história.
Durante esta conferência pioneira, os líderes africanos propam a criação de um "Dia Africano da Liberdade", lançando as bases do que viria a tornar-se uma tradição continental. As reuniões continuaram a realizar-se ano após ano, reforçando os laços entre as nações africanas e consolidando uma visão comum da independência e do desenvolvimento.
O ponto alto ocorreu a 25 de maio de 1963, quando nasceu oficialmente a Organização de Unidade Africana (OUA), mais tarde transformada na atual União Africana. Esta data ficou marcada na história como o Dia de África, simbolizando não só a unidade política do continente, mas também o empenho comum no progresso social, económico e cultural.
África: um continente de conquistas e transformações
O continente africano do século XXI apresenta uma imagem radicalmente diferente da das décadas anteriores. As transformações económicas têm sido particularmente notáveis, com um crescimento sustentado que colocou várias nações africanas entre as economias de desenvolvimento mais rápido do mundo. Países como o Gana, o Ruanda, a Etiópia e a Costa do Marfim registaram taxas de crescimento que excedem a média mundial, demonstrando o potencial económico do continente.
A participação das mulheres na economia representa um dos desenvolvimentos mais significativos das últimas décadas. As mulheres africanas têm assumido papéis de liderança no desenvolvimento empresarial, desde pequenas empresárias locais a executivas de grandes empresas. Em países como o Ruanda, as mulheres detêm mais de 60% dos assentos parlamentares, constituindo um exemplo mundial em termos de representação política das mulheres.
Na área da igualdade de género, África assistiu a avanços revolucionários. As mulheres africanas ocupam atualmente posições de liderança na política, na ciência, na tecnologia e na cultura. Figuras como Ellen Johnson Sirleaf, a primeira mulher presidente da Libéria e vencedora do Prémio Nobel da Paz, ou Ngozi Okonjo-Iweala, diretora-geral da Organização Mundial do Comércio, exemplificam o papel crescente das mulheres na cena internacional.
O processo de descolonização, apoiado de forma significativa pelas Nações Unidas, culminou com o êxito da independência de todas as nações africanas. Este feito histórico não só representou a libertação política, como também abriu a porta a cada país para moldar o próprio destino e desenvolver os recursos naturais e humanos de acordo com as suas próprias visões e necessidades.
O cinema como janela para a alma africana
A sétima arte tem servido como uma ponte cultural inestimável para levar as realidades africanas ao resto do mundo. Asproduções cinematográficas captaram tanto a beleza natural do continente como as suas complexas realidades sociais e históricas.
"África Minha" (1985)
Continua a ser uma obra cinematográfica icónica que transporta os espetadores para a paisagem queniana através da experiência de Karen Blixen. Esta adaptação de sucesso comercial não só mostrou a majestade das paisagens africanas, como também explorou temas universais como o amor, a perda e a procura de identidade em terras distantes.
"Diamantes de Sangue" (2006)
O filme abordou os conflitos que assolaram a Serra Leoa durante a década de 1990 com crueza e honestidade. Expôs ao mundo as consequências devastadoras da guerra civil, incluindo a situação das crianças-soldado e a exploração dos recursos naturais, contribuindo significativamente para a sensibilização internacional para estas questões.
"Invictus" (2009)
imortalizou um dos momentos mais inspiradores da história moderna da África do Sul. O filme recriou magistralmente a forma como Nelson Mandela utilizou o Campeonato do Mundo de Râguebi de 1995 como instrumento de reconciliação nacional, demonstrando o poder do desporto para unir uma sociedade dividida por décadas de apartheid.
Outras produções notáveis incluem "Hotel Ruanda" (2004), que relatou o genocídio no Ruanda com uma sensibilidade extraordinária, "O Último Rei da Escócia" (2006), que retratou o regime de Idi Amin no Uganda, e "Beasts of No Nation" (2015), que explorou o impacto da guerra civil nas crianças africanas. Mais recentemente,"Black Panther" (2018) apresentou uma visão futurista e esperançosa de África, inspirando milhões de pessoas em todo o mundo.
Celebrar África na era digital
A comemoração do Dia de África evoluiu com o tempo, adaptando-se a novas formas de comunicação e de participação dos cidadãos. Os países africanos organizam anualmente eventos culturais, conferências académicas, exposições de arte e festivais gastronómicos que celebram a diversidade do continente.
A participação dos cidadãos através das redes sociais democratizou esta celebração, permitindo que pessoas de todo o mundo se juntem através de hashtags como #AfricaDay para partilhar experiências, conhecimentos e reflexões sobre o continente. Esta conetividade digital facilitou o intercâmbio cultural e contribuiu para desmistificar estereótipos, apresentando uma imagem mais completa e matizada da realidade africana contemporânea.