{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/my-europe/2017/12/21/siria-tortura-na-primeira-pessoa" }, "headline": "S\u00edria: Tortura na primeira pessoa", "description": "Tortura na primeira pessoa, a vontade de responsabilizar criminosos e a \u0022jurisdi\u00e7\u00e3o universal\u0022: guerras dentro da guerra na S\u00edria.", "articleBody": "\u201cOs meus pulsos estavam acorrentados. Penduraram-me numa barra de ferro sob o teto para que os meus p\u00e9s ficassem dois cent\u00edmetros acima do ch\u00e3o.\u201d \u2018Abu Firas\u2019 \u2013 V\u00edtima de tortura \u201cEles penduraram-me do tecto pelas m\u00e3os . Bateram-me com uma barra de ferro.\u201dAbdul Karim Rihawi \u2013 V\u00edtima de tortura \u201cSentia o meu dedo do tamanho de uma bola de futebol. 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At\u00e9 agora temos seis listas, entreg\u00e1mo-las ao governo alem\u00e3o\u2026H\u00e1 pelo menos 7 mil criminosos de guerra da S\u00edria em toda a Europa mas a maior parte deles residem na Alemanha, vieram sobretudo depois da chegada maci\u00e7a de refugiados em 2015\u2026\u00c9 tamb\u00e9m isso que me faz zangar: eles est\u00e3o a gozar a vida aqui na Alemanha e t\u00eam todos os benef\u00edcios resultantes da lei, mesmo sendo criminosos de guerra\u2026.\u201d A unidade de crimes de guerra no Gabinete Federal Alem\u00e3o de Investiga\u00e7\u00e3o Criminal disse \u00e0 euronews que recebeu 4300 pistas de sobreviventes s\u00edrios e iraquianos. Resultaram em 43 investiga\u00e7\u00f5es, mas muitos suspeitos apagaram as conta de facebook. \u00c9 dif\u00edcil ficar em posse de provas s\u00f3lidas. Survivors of #torture in #Syria file criminal complaints ECCHRBerlin. Most wanted: NSB head Mamluk & deputy Qudsiyeh, MilitaryIntelHeads Shehadeh & Mahalla, Unit235Head Khallouf, Unit215Head Masa. Survivors speak up euronewsinsidrs euronews A_L_Kather #Justice4Syria pic.twitter.com/E7bBus9erz\u2014 Hans von der Brelie (@euronewsreport) December 13, 2017 \u201cA tortura na S\u00edria \u00e9 muito normal, muito sist\u00e9mica. O que \u00e9 anormal \u00e9 ires para a pris\u00e3o e ningu\u00e9m te torturar\u2026 Bateram-me com cabos, com as m\u00e3os, com os p\u00e9s\u2026Quando nos levavam \u00e0 casa-de-banho tinhamos de ar junto aos cad\u00e1veres no ch\u00e3o. Meu Deus, era realmente horr\u00edvel\u2026Toda a noite\u2026 ainda consigo ouvir as vozes das pessoas a implorar, a gritar, a berrar da tortura\u2026Ouvi a voz de uma crian\u00e7a, um rapaz, talvez tivesse 14 ou 16 anos. S\u00f3 chamava pelo pai: \u2018Por favor, preciso do meu pap\u00e1... o meu pap\u00e1....\u201d A arte da e na sobreviv\u00eancia Viajamos agora para norte, com destino a Berlim, a capital alem\u00e3, a mais de 500 quil\u00f3metros. O jovem artista s\u00edrio Hamid Sulaiman convida-nos para o seu est\u00fadio, em Berlim. Tamb\u00e9m ele conhece as pris\u00f5es s\u00edrias por dentro. Depois de ter sido libertado, foi-lhe concedido asilo em Paris. Atualmente, divide-se entre a Alemanha e a Fran\u00e7a. Sulaiman \u00e9 o autor de \u201cFreedom Hospital\u201d, uma novela gr\u00e1fica onde relata o in\u00edcio do conflito na S\u00edria. O livro \u00e9 dedicado a um antigo amigo, Hussam, torturado at\u00e9 \u00e0 morte. \u201cI am a survivor, the others are dead. So, my duty was to tell their story,\u201d Syrian graphic novelist hamid_sul told euronews. Full interview by euronewsreport out on Friday pic.twitter.com/SoKe8fu54U\u2014 H\u00e9l\u00e8ne Parson (HeleneParson) December 20, 2017 Sulaiman fala-nos de Hussam, do processo criativo resultante do pesadelo que deixou para tr\u00e1s no tempo f\u00edsico, mas com que vive e com que faz viver os que j\u00e1 n\u00e3o podem: \u201artilh\u00e1mos o in\u00edcio da Primavera \u00c1rabe juntos, partilh\u00e1mos o sonho da liberdade num pa\u00eds melhor e tudo isso\u2026 Eu deixei a S\u00edria, o Hussam estava prestes a sair da S\u00edria quando foi preso\u2026e foi morto na pris\u00e3o. Cinco dias mais tarde telefonaram \u00e0 m\u00e3e para ir buscar o corpo.Eu sou um sobrevivente, os outros est\u00e3o mortos. Eu falo por eles, \u00e9 um pouco a minha responsabilidade\u2026Pensei muito em como podia representar a viol\u00eancia nesta obra porque muitas pessoas v\u00e3o dizer: \u2018ok, n\u00e3o eras obrigado a mostrar sangue e toda aquela viol\u00eancia para falares sobre a S\u00edria\u2026\u2019. E, ao mesmo tempo, eu digo-me: \u2018ok, mas esta \u00e9 a realidade.\u2019\u201d My book FreedomHospital is dedicated to my friend Hussam: he was tortured to death in Syrian prison. Graphic novel author HamidSulaiman meets euronewsinsidrs in his Berlin studio to speak about #Justice4Syria ECCHRBerlin euronews A_L_Kather AmnestySyria pic.twitter.com/sbZTtWEvom\u2014 Hans von der Brelie (euronewsreport) 18 de dezembro de 2017 A persist\u00eancia de quem resiste ao regime Encontramo-nos com Anwar al-Bunni, um conhecido advogado s\u00edrio de direitos humanos, e Yazan Awad, um ativista em direitos civis de Damasco, ambos sobreviventes de tortura. O nosso destino \u00e9 o Centro Europeu para Direitos Constitucionais e Humanos, uma organiza\u00e7\u00e3o que localiza criminosos de guerra por todo o mundo. O trabalho art\u00edstico de Hamid Sulaiman est\u00e1 exposto na sede do Centro. Apoiados pela conselheira jur\u00eddica Alexandra Lily Kather, Anwar e Yazan entregaram queixas criminais ao Procurador Federal Alem\u00e3o. Querem apanhar os cabecilhas, aqueles que deram as ordens. Queremos saber dos pr\u00f3ximos os, do que vai acontecer em 2018. Kather fala de um trajeto a percorrer: \u201cDepois das investiga\u00e7\u00f5es a pessoas espec\u00edficas, esperamos obter mandados de deten\u00e7\u00e3o emitidos pelo Supremo Tribunal Federal na Alemanha; e depois dos mandados de deten\u00e7\u00e3o alem\u00e3es, esperamos mandados de deten\u00e7\u00e3o em toda a Europa e internacionalmente, para estes indiv\u00edduos.\u201d Thank you euronews & euronewsreport for spending the day with us & your interest in our strategic litigation work on #Syria ECCHRBerlin anwaralbounni \u2013 stay tuned for broadcast at the end of December. pic.twitter.com/5xdoxn5s76\u2014 AlexandraLilyKather (@A_L_Kather) 6 de dezembro de 2017 Anwar al-Bunni n\u00e3o tem d\u00favidas de que a tortura come\u00e7a por cima: \u201cEncontrei-me pessoalmente com o chefe do Gabinete da Seguran\u00e7a Nacional s\u00edria e falei-lhe sobre a tortura \u2013 e ele sabe disso\u2026 porque eu estava detido, detido por ele.\u201d Na Procuradoria Federal alem\u00e3, Yazan est\u00e1 listado como \u201ctestemunha-chave n\u00famero 24\u201d: est\u00e1 entre esses muito poucos sobreviventes sem medo de falar publicamente.Durante a Primavera \u00c1rabe organizou protestos da juventude civil. Em novembro de 2011 foi preso e torturado de modo t\u00e3o severo que confessou crimes que nunca cometeu \u2013 tal como ter assassinado o primeiro ministro do L\u00edbano. I was full of terror because I heart people screaming in a way I can\u2019t describe, Yazan Awad tells euronewsinsidrs in Berlin. He survived prison #torture in #Syria and wants #Justice4Syria together with ECCHRBerlin filing criminal complaints at GermanPublirosecutor euronews pic.twitter.com/RVwh7eWTCj\u2014 Hans von der Brelie (euronewsreport) 14 de dezembro de 2017 \u201cEu disse ao torturador: \u2018Confesso o que seja, at\u00e9 testemunho contra a minha pr\u00f3pria m\u00e3e\u2019. Ele respondeu: \u2018N\u00f3s vamos traz\u00ea-la e veremos\u2026\u2019. Saiu e, depois de 15 ou 30 minutos, disse-me: \u2018Trouxemos a tua m\u00e3e para assistires \u00e0 tortura dela\u2019, mas eu sabia que ele mentia e comecei a gritar: \u2018A minha m\u00e3e, a minha m\u00e3e\u2026\u2019 e ele esmurrou-me na cara. O torturador disse: \u2018ok, vamos ver o que faremos com a tua m\u00e3e\u2019, mas eu estava vendado, sem poder ver nada. A press\u00e3o psicol\u00f3gica sobre mim era enorme \u2013 colapsei porque abusaram de uma mulher inocente. Eu n\u00e3o a conhecia, talvez ela fosse uma das prisioneiras do Centro de Jaweyeh. Trouxeram-na, ela estava na sala e era \u00f3bvio que duas pessoas a estavam a torturar ou a violar porque distingui v\u00e1rias vozes. Desmoronei completamente. Disse ao torturador que itia o que quisesse, mas que parasse de a torturar, de a violar. Ele respondeu que os homens ainda n\u00e3o tinham acabado com ela\u2026\u201d Yazan n\u00e3o cont\u00e9m as l\u00e1grimas. O tempo parece n\u00e3o tirar a for\u00e7a das mem\u00f3rias que evoca: \u201cEles estavam a torturar os outros prisioneiros antes, mas agora tinham vindo 5 ou 6 homens para me torturarem em conjunto. Torturaram-me, torturaram-me\u2026 Do meu ponto de vista, eu pensava que j\u00e1 estava morto. Do ponto de vista deles, fingiam que eu era um homem que os atacava. mas como pode um homem n\u00fa atacar os seus torturadores? Disseram-me: Pensas que \u00e9s um homem? Vamos mostrar-te que \u00e9s uma mulher. Continuaram a bater-me e o torturador que usava o punho da arma para me bater, de repente virou a arma e introduziu o cano no meu corpo, por tr\u00e1s, e depois arrancou-o para fora, de novo. Quando o fez, as pontas de ferro do cano da arma destru\u00edram-me o \u00e2nus.\u201d O Tribunal Criminal Internacional em Haia n\u00e3o p\u00f4de tomar \u201cmedidas contra funcion\u00e1rios s\u00edrios porque a R\u00fassia e a China usaram o veto deles. Mas a Alemanha e um alguns pa\u00edses da Uni\u00e3o Europeia aplicam o \u2018\u2018princ\u00edpio da jurisdi\u00e7\u00e3o universal\u2019\u2018 e come\u00e7aram uma investiga\u00e7\u00e3o a n\u00edvel nacional. Anwar al-Bunni, enquanto advogado de direitos humanos, tem recados para deixar: \u201cA primeira mensagem que queremos mandar aos assassinos e criminosos na S\u00edria e no mundo inteiro: o tempo da impunidade acabou. A impunidade j\u00e1 n\u00e3o \u00e9 permitida nunca, em nenhum s\u00edtio. E, em segundo lugar: tenham cuidado, a justi\u00e7a est\u00e1 \u00e0 vossa espera. Sem justi\u00e7a, n\u00e3o h\u00e1 S\u00edria. Nenhum pa\u00eds em todo o mundo pode ser constru\u00eddo sem justi\u00e7a.\u201d Syrians in file war crime cases against Assad regime https://t.co/UBJ320jyuO\u2014 anwar al bunni (@anwaralbounni) 9 de novembro de 2017 Al-Bunni corre para apanhar o avi\u00e3o: tem algumas reuni\u00f5es de alto n\u00edvel em Bruxelas, com a Comissao Europeia e o governo belga. Al-Bunni quer convencer mais membros da Uni\u00e3o Europeia a usar tamb\u00e9m a ferramenta da \u201cjurisdi\u00e7\u00e3o universal\u201d: que n\u00e3o haja um porto de abrigo para torturadores, em lado algum\u2026", "dateCreated": "2017-12-21T17:23:56+01:00", "dateModified": "2017-12-21T17:23:56+01:00", "datePublished": "2017-12-21T17:23:56+01:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2F415489%2F1440x810_415489.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "Tortura na primeira pessoa, a vontade de responsabilizar criminosos e a \u0022jurisdi\u00e7\u00e3o universal\u0022: guerras dentro da guerra na S\u00edria.", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2F415489%2F432x243_415489.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "author": [ { "@type": "Person", "familyName": "Von der Brelie", "givenName": "Hans", "name": "Hans Von der Brelie", "url": "/perfis/247", "worksFor": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "sameAs": "https://www.x.com/@euronewsreport", "memberOf": { "@type": "Organization", "name": "Magazines europ\u00e9ens" } } ], "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "S\u00e9rie: a minha Europa" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }

Síria: Tortura na primeira pessoa

Síria: Tortura na primeira pessoa
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De Hans von der Brelie
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Tortura na primeira pessoa, a vontade de responsabilizar criminosos e a "jurisdição universal": guerras dentro da guerra na Síria.

“Os meus pulsos estavam acorrentados. Penduraram-me numa barra de ferro sob o teto para que os meus pés ficassem dois centímetros acima do chão.”
‘Abu Firas’ – Vítima de tortura

“Eles penduraram-me do tecto pelas mãos . Bateram-me com uma barra de ferro.”
Abdul Karim Rihawi – Vítima de tortura

“Sentia o meu dedo do tamanho de uma bola de futebol. Sentia os meus braços muito compridos porque os meus ombros foram deslocados com tortura… olhava e via os meus braços muito longe…”
Yazan Awad – Vítima de tortura

Sem culpados, não há justiça

Quando as emoções deles são um torvelinho agitado, Nahla Osman decide-se por um eio ao longo do rio Main com os clientes.
Osman é uma advogada alemã, cujos pais são de Alepo, na Síria, que ajuda vítimas de tortura prisional. Juntamente com o irmão, dirige um escritório de advocacia em Rüsselsheim, na Alemanha.

Osman compilou centenas de relatórios de testemunhas. Uma impressionante quantidade de provas de que há tortura nas prisões sírias, em proporção substancial. Mas, então, por que é que apenas um punhado de sobreviventes decidiu avançar para tribunal até agora? Osman sabe a resposta: “Muitos refugiados sírios esperam ainda uma reunificação familiar. Se os membros da família estão na Síria, os que já chegaram à Alemanha têm medo de tomar medidas legais. Se iniciassem aqui na Alemanha um processo judicial contra os torturadores, o regime sírio prendiam ou matavam os familiares.”

No escritório de advocacia de Osman conhecemos dois sobreviventes da tortura prisional siria: Abdul Karim Rihawi, fundador da Liga dos Direitos Humanos Sírios, e um ativista de direitos civis, de Damasco, que prefere não ser identificado e que se dá como ‘Abu Firas’ no primeiro testemunho que alguma vez deu sobre a tortura por que ou.

“Tinham um instrumento eléctrico e punham cabos eléctricos debaixo dos meus pés, debaixo dos dos meus braços e nos polegares. Ainda se conseguem ver sinais do procedimento nos meus polegares. Depois ligavam a corrente, desligavam a corrente, ligavam, desligavam, outra vez e outra e outra…”

‘Abu Firas’ quer levar o seu caso ao Ministério Público alemão em breve, pedindo-lhe que emita mandados de detenção contra funcionários sírios de topo.

“Torturaram-me com o método do pneu de carro, apertando o meu corpo dentro do pneu, com os braços dobrados, sem me poder mexer. Bateram-me com um bocado de um motor de um tanque, uma espécie de cinto em V, muito grosso e bastante largo…Logo depois dos dois primeiros golpes senti o meu corpo paralisado. Só tive esperança de conhecer o filho de que a minha mulher estava grávida naquela altura.”

O testemunho de ‘Firas’ deixa o ado doloroso para falar do futuro possível. Quanto a isso, é inequívoco: “A reconciliação com todos os grupos sectários na Síria é possível, sim, mas não com este regime criminoso.”

Insiders: Torture in Syrian prisons - Part 1

A volatilidade das provas

Abdul Karim Rihawi, o amigo de ‘Abu Firas’, convida a euronews para o seu minúsculo quarto de hotel onde está há já dois anos. Aí, mostra-nos as provas que recolheu contra os torturadores, em conjunto com a sua rede de direitos civis ainda ativa de modo clandestino na Síria. Identificou alegados torturadores que vivem agora na Alemanha.

Em face de um álbum com fotos tipo e, a euronews pergunta a Rihawi: “Entre estas pessoas há alguém que seja torturador?”

A resposta é clara: “Muitos deles, muitos deles: torturar… uma série de crimes… eles cometeram muitos crimes… Por isso estamos a pedir às autoridades alemãs que ajam contra isto.
Fazemos uma lista destes assassinos. Até agora temos seis listas, entregámo-las ao governo alemão…
Há pelo menos 7 mil criminosos de guerra da Síria em toda a Europa mas a maior parte deles residem na Alemanha, vieram sobretudo depois da chegada maciça de refugiados em 2015…
É também isso que me faz zangar: eles estão a gozar a vida aqui na Alemanha e têm todos os benefícios resultantes da lei, mesmo sendo criminosos de guerra….”

A unidade de crimes de guerra no Gabinete Federal Alemão de Investigação Criminal disse à euronews que recebeu 4300 pistas de sobreviventes sírios e iraquianos. Resultaram em 43 investigações, mas muitos suspeitos apagaram as conta de facebook. É difícil ficar em posse de provas sólidas.

Survivors of #torture in #Syria file criminal complaints ECCHRBerlin</a>. Most wanted: NSB head Mamluk & deputy Qudsiyeh, MilitaryIntelHeads Shehadeh & Mahalla, Unit235Head Khallouf, Unit215Head Masa. Survivors speak up <a href="https://twitter.com/euronewsinsidrs?ref_src=twsrc%5Etfw">euronewsinsidrseuronews</a> <a href="https://twitter.com/A_L_Kather?ref_src=twsrc%5Etfw">A_L_Kather#Justice4Syriapic.twitter.com/E7bBus9erz

— Hans von der Brelie (@euronewsreport) December 13, 2017

“A tortura na Síria é muito normal, muito sistémica. O que é anormal é ires para a prisão e ninguém te torturar… Bateram-me com cabos, com as mãos, com os pés…
Quando nos levavam à casa-de-banho tinhamos de ar junto aos cadáveres no chão. Meu Deus, era realmente horrível…
Toda a noite… ainda consigo ouvir as vozes das pessoas a implorar, a gritar, a berrar da tortura…
Ouvi a voz de uma criança, um rapaz, talvez tivesse 14 ou 16 anos. Só chamava pelo pai: ‘Por favor, preciso do meu papá… o meu papá….”

A arte da e na sobrevivência

Viajamos agora para norte, com destino a Berlim, a capital alemã, a mais de 500 quilómetros.

O jovem artista sírio Hamid Sulaiman convida-nos para o seu estúdio, em Berlim.
Também ele conhece as prisões sírias por dentro. Depois de ter sido libertado, foi-lhe concedido asilo em Paris.
Atualmente, divide-se entre a Alemanha e a França. Sulaiman é o autor de “Freedom Hospital”, uma novela gráfica onde relata o início do conflito na Síria. O livro é dedicado a um antigo amigo, Hussam, torturado até à morte.

“I am a survivor, the others are dead. So, my duty was to tell their story,” Syrian graphic novelist hamid_sul</a> told <a href="https://twitter.com/euronews?ref_src=twsrc%5Etfw">euronews. Full interview by euronewsreport</a> out on Friday <a href="https://t.co/SoKe8fu54U">pic.twitter.com/SoKe8fu54U</a></p>— Hélène Parson (HeleneParson) December 20, 2017

Sulaiman fala-nos de Hussam, do processo criativo resultante do pesadelo que deixou para trás no tempo físico, mas com que vive e com que faz viver os que já não podem: “Partilhámos o início da Primavera Árabe juntos, partilhámos o sonho da liberdade num país melhor e tudo isso… Eu deixei a Síria, o Hussam estava prestes a sair da Síria quando foi preso…e foi morto na prisão. Cinco dias mais tarde telefonaram à mãe para ir buscar o corpo.
Eu sou um sobrevivente, os outros estão mortos. Eu falo por eles, é um pouco a minha responsabilidade…
Pensei muito em como podia representar a violência nesta obra porque muitas pessoas vão dizer: ‘ok, não eras obrigado a mostrar sangue e toda aquela violência para falares sobre a Síria…’. E, ao mesmo tempo, eu digo-me: ‘ok, mas esta é a realidade.’”

My book FreedomHospital is dedicated to my friend Hussam: he was tortured to death in Syrian prison. Graphic novel author HamidSulaiman meets euronewsinsidrs</a> in his Berlin studio to speak about <a href="https://twitter.com/hashtag/Justice4Syria?src=hash&ref_src=twsrc%5Etfw">#Justice4Syria</a> <a href="https://twitter.com/ECCHRBerlin?ref_src=twsrc%5Etfw">ECCHRBerlineuronews</a> <a href="https://twitter.com/A_L_Kather?ref_src=twsrc%5Etfw">A_L_KatherAmnestySyria</a> <a href="https://t.co/sbZTtWEvom">pic.twitter.com/sbZTtWEvom</a></p>— Hans von der Brelie (euronewsreport) 18 de dezembro de 2017

Insiders: Torture in Syrian prisons - Part 2

A persistência de quem resiste ao regime

Encontramo-nos com Anwar al-Bunni, um conhecido advogado sírio de direitos humanos, e Yazan Awad, um ativista em direitos civis de Damasco, ambos sobreviventes de tortura. O nosso destino é o Centro Europeu para Direitos Constitucionais e Humanos, uma organização que localiza criminosos de guerra por todo o mundo.

O trabalho artístico de Hamid Sulaiman está exposto na sede do Centro. Apoiados pela conselheira jurídica Alexandra Lily Kather, Anwar e Yazan entregaram queixas criminais ao Procurador Federal Alemão. Querem apanhar os cabecilhas, aqueles que deram as ordens.

Queremos saber dos próximos os, do que vai acontecer em 2018. Kather fala de um trajeto a percorrer: “Depois das investigações a pessoas específicas, esperamos obter mandados de detenção emitidos pelo Supremo Tribunal Federal na Alemanha; e depois dos mandados de detenção alemães, esperamos mandados de detenção em toda a Europa e internacionalmente, para estes indivíduos.”

Thank you euronews</a> & <a href="https://twitter.com/euronewsreport?ref_src=twsrc%5Etfw">euronewsreport for spending the day with us & your interest in our strategic litigation work on #SyriaECCHRBerlin</a> <a href="https://twitter.com/anwaralbounni?ref_src=twsrc%5Etfw">anwaralbounni – stay tuned for broadcast at the end of December. pic.twitter.com/5xdoxn5s76

— AlexandraLilyKather (@A_L_Kather) 6 de dezembro de 2017

Anwar al-Bunni não tem dúvidas de que a tortura começa por cima: “Encontrei-me pessoalmente com o chefe do Gabinete da Segurança Nacional síria e falei-lhe sobre a tortura – e ele sabe disso… porque eu estava detido, detido por ele.”

Na Procuradoria Federal alemã, Yazan está listado como “testemunha-chave número 24”: está entre esses muito poucos sobreviventes sem medo de falar publicamente.
Durante a Primavera Árabe organizou protestos da juventude civil. Em novembro de 2011 foi preso e torturado de modo tão severo que confessou crimes que nunca cometeu – tal como ter assassinado o primeiro ministro do Líbano.

I was full of terror because I heart people screaming in a way I can’t describe, Yazan Awad tells euronewsinsidrs</a> in Berlin. He survived prison <a href="https://twitter.com/hashtag/torture?src=hash&ref_src=twsrc%5Etfw">#torture</a> in <a href="https://twitter.com/hashtag/Syria?src=hash&ref_src=twsrc%5Etfw">#Syria</a> and wants <a href="https://twitter.com/hashtag/Justice4Syria?src=hash&ref_src=twsrc%5Etfw">#Justice4Syria</a> together with <a href="https://twitter.com/ECCHRBerlin?ref_src=twsrc%5Etfw">ECCHRBerlin filing criminal complaints at GermanPublirosecutor euronews</a> <a href="https://t.co/RVwh7eWTCj">pic.twitter.com/RVwh7eWTCj</a></p>— Hans von der Brelie (euronewsreport) 14 de dezembro de 2017

“Eu disse ao torturador: ‘Confesso o que seja, até testemunho contra a minha própria mãe’. Ele respondeu: ‘Nós vamos trazê-la e veremos…’.
Saiu e, depois de 15 ou 30 minutos, disse-me: ‘Trouxemos a tua mãe para assistires à tortura dela’, mas eu sabia que ele mentia e comecei a gritar: ‘A minha mãe, a minha mãe…’ e ele esmurrou-me na cara.
O torturador disse: ‘ok, vamos ver o que faremos com a tua mãe’, mas eu estava vendado, sem poder ver nada. A pressão psicológica sobre mim era enorme – colapsei porque abusaram de uma mulher inocente.
Eu não a conhecia, talvez ela fosse uma das prisioneiras do Centro de Jaweyeh. Trouxeram-na, ela estava na sala e era óbvio que duas pessoas a estavam a torturar ou a violar porque distingui várias vozes.
Desmoronei completamente. Disse ao torturador que itia o que quisesse, mas que parasse de a torturar, de a violar. Ele respondeu que os homens ainda não tinham acabado com ela…”

Yazan não contém as lágrimas. O tempo parece não tirar a força das memórias que evoca: “Eles estavam a torturar os outros prisioneiros antes, mas agora tinham vindo 5 ou 6 homens para me torturarem em conjunto. Torturaram-me, torturaram-me… Do meu ponto de vista, eu pensava que já estava morto. Do ponto de vista deles, fingiam que eu era um homem que os atacava. mas como pode um homem nú atacar os seus torturadores? Disseram-me: Pensas que és um homem? Vamos mostrar-te que és uma mulher. Continuaram a bater-me e o torturador que usava o punho da arma para me bater, de repente virou a arma e introduziu o cano no meu corpo, por trás, e depois arrancou-o para fora, de novo. Quando o fez, as pontas de ferro do cano da arma destruíram-me o ânus.”

O Tribunal Criminal Internacional em Haia não pôde tomar “medidas contra funcionários sírios porque a Rússia e a China usaram o veto deles. Mas a Alemanha e um alguns países da União Europeia aplicam o ‘‘princípio da jurisdição universal’‘ e começaram uma investigação a nível nacional.

Anwar al-Bunni, enquanto advogado de direitos humanos, tem recados para deixar: “A primeira mensagem que queremos mandar aos assassinos e criminosos na Síria e no mundo inteiro: o tempo da impunidade acabou. A impunidade já não é permitida nunca, em nenhum sítio. E, em segundo lugar: tenham cuidado, a justiça está à vossa espera. Sem justiça, não há Síria. Nenhum país em todo o mundo pode ser construído sem justiça.”

Syrians in file war crime cases against Assad regime https://t.co/UBJ320jyuO

— anwar al bunni (@anwaralbounni) 9 de novembro de 2017

Al-Bunni corre para apanhar o avião: tem algumas reuniões de alto nível em Bruxelas, com a Comissao Europeia e o governo belga. Al-Bunni quer convencer mais membros da União Europeia a usar também a ferramenta da “jurisdição universal”: que não haja um porto de abrigo para torturadores, em lado algum…

Insiders: Torture in Syrian prisons - Part 3

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