{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/my-europe/2024/02/13/tudo-o-que-precisa-de-saber-sobre-os-desafios-do-setor-agricola-da-ue" }, "headline": "Tudo o que precisa de saber sobre os desafios do setor agr\u00edcola da UE", "description": "Os agricultores descontentes com pol\u00edticas da Uni\u00e3o Europeia (UE) sa\u00edram \u00e0 rua em muitos Estados-membros. Mas qual \u00e9 a import\u00e2ncia do setor agr\u00edcola para a economia do bloco? A Euronews analisa o assunto.", "articleBody": "Entre as principais reivindica\u00e7\u00f5es dos agricultores est\u00e3o apoios para lidar com a crise do custo de vida, os impostos sobre os combust\u00edveis, a regulamenta\u00e7\u00e3o ambiental, a burocracia pesada, a concorr\u00eancia desleal e os acordos de com\u00e9rcio livre. 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No entanto, estes n\u00fameros n\u00e3o d\u00e3o uma imagem completa porque a colheita \u00e9 uma atividade sazonal que emprega muitas pessoas com contratos tempor\u00e1rios e a tempo parcial. Tendo em conta estas particularidades, o Eurostat estima a m\u00e3o de obra em 17 milh\u00f5es de pessoas. O setor \u00e9 orientado para os homens e est\u00e1 a envelhecer : a grande maioria dos gestores agr\u00edcolas s\u00e3o homens (68,4%) e t\u00eam mais de 55 anos de idade (57,6%). Os Pa\u00edses Baixos registam o maior desequil\u00edbrio entre homens e mulheres, com apenas 5,6% dos agricultores do sexo feminino, enquanto a Let\u00f3nia e a Litu\u00e2nia s\u00e3o os pa\u00edses que mais se aproximam de uma propor\u00e7\u00e3o de 50-50. Todos estes agricultores trabalham em 157 milh\u00f5es de hectares de terras agr\u00edcolas , que, por sua vez, est\u00e3o divididos em 9,1 milh\u00f5es de explora\u00e7\u00f5es. No entanto, esta distribui\u00e7\u00e3o \u00e9 muito desigual: cerca de 52% das terras agr\u00edcolas s\u00e3o controladas por 4% das explora\u00e7\u00f5es agr\u00edcolas, ou seja, as que t\u00eam mais de 100 hectares. Em contrapartida, as explora\u00e7\u00f5es de pequena dimens\u00e3o, com menos de 5 hectares, utilizam apenas 6% das terras dispon\u00edveis, apesar de representarem 40% do total das explora\u00e7\u00f5es. Esta forte concentra\u00e7\u00e3o de terras reflecte a industrializa\u00e7\u00e3o da agricultura, em que um pequeno n\u00famero de empresas utiliza tecnologias, maquinaria e m\u00e9todos avan\u00e7ados para produzir culturas em grande escala e vend\u00ea-las a n\u00edvel mundial. Milhares de milh\u00f5es em subs\u00eddios A agricultura \u00e9 um neg\u00f3cio arriscado que est\u00e1 \u00e0 merc\u00ea de fen\u00f3menos meteorol\u00f3gicos, da volatilidade da procura e da concorr\u00eancia estrangeira, o que dificulta a obten\u00e7\u00e3o de lucros e a atra\u00e7\u00e3o de investimentos. Isto explica por que raz\u00e3o a agricultura \u00e9 uma das ind\u00fastrias mais fortemente subsidiadas na UE, apesar da sua contribui\u00e7\u00e3o min\u00fascula para o crescimento econ\u00f3mico. Criada em 1962, a Pol\u00edtica Agr\u00edcola Comum (PAC) \u00e9 um programa de aux\u00edlios estatais que tem por objetivo garantir aos agricultores europeus um rendimento m\u00ednimo est\u00e1vel e a possibilidade de competir al\u00e9m fronteiras. Durante d\u00e9cadas, a PAC foi a raz\u00e3o de ser do or\u00e7amento comum, absorvendo mais de 60% de todas as despesas. Atualmente, representa um ter\u00e7o. A PAC tem a dota\u00e7\u00e3o de 264 mil milh\u00f5es de euros para o per\u00edodo 2023-2027, principalmente dedicada a duas linhas de a\u00e7\u00e3o: 189,2 mil milh\u00f5es de euros para apoio ao rendimento (pagamentos diretos que compensam os agricultores) e 66 mil milh\u00f5es de euros para o desenvolvimento rural, a fim de enfrentar os desafios das zonas empobrecidas. Os pagamentos diretos n\u00e3o est\u00e3o, fundamentalmente, ligados \u00e0 quantidade de colheitas que os agricultores produzem. A Comiss\u00e3o Europeia argumenta que esta liga\u00e7\u00e3o incentivaria a sobreprodu\u00e7\u00e3o para obter uma maior quota-parte de subs\u00eddios e desequilibrar o mercado. Em vez disso, os pagamentos s\u00e3o efetuados em fun\u00e7\u00e3o dos hectares (terras cultivadas) e do respeito pela biodiversidade, pelo bem-estar dos animais e pelas regras sanit\u00e1rias. A PAC \u00e9 um dos elementos mais debatidos da pol\u00edtica da UE e tem sido objeto de cr\u00edticas constantes devido, nomeadamente, \u00e0 sua distribui\u00e7\u00e3o desequilibrada (cerca de 80% do or\u00e7amento vai parar \u00e0s m\u00e3os de 20% dos agricultores), \u00e0 sua efic\u00e1cia question\u00e1vel (os rendimentos dos agricultores continuam a ser 40% inferiores aos sal\u00e1rios m\u00e9dios da UE) e \u00e0 distor\u00e7\u00e3o comercial causada em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s regras da Organiza\u00e7\u00e3o Mundial do Com\u00e9rcio (OMC). Profus\u00e3o de metano Outra acusa\u00e7\u00e3o recorrente feita \u00e0 PAC \u00e9 a sua fraca aplica\u00e7\u00e3o das normas ambientais. Isto porque a agricultura \u00e9 um importante fator de polui\u00e7\u00e3o, sendo respons\u00e1vel por mais de 10% das emiss\u00f5es de gases com efeito de estufa da UE. A Ag\u00eancia Europeia do Ambiente (AEA) atribui estas emiss\u00f5es a tr\u00eas fontes: CH4 (metano) proveniente da fermenta\u00e7\u00e3o ent\u00e9rica, que se refere ao processo digestivo dos animais ruminantes, como os bovinos, ovinos e caprinos. N2O (\u00f3xido nitroso), principalmente devido \u00e0 utiliza\u00e7\u00e3o de fertilizantes sint\u00e9ticos \u00e0 base de azoto. CH4 (metano) proveniente da gest\u00e3o e elimina\u00e7\u00e3o de estrume. Embora o setor agr\u00edcola esteja sujeito ao objetivo global da UE de reduzir gradualmente as emiss\u00f5es de gases com efeito de estufa e alcan\u00e7ar a neutralidade clim\u00e1tica at\u00e9 2050, a redu\u00e7\u00e3o alcan\u00e7ada at\u00e9 agora tem sido extremamente limitada. De facto, entre 2005 e 2021, a AEA estima que as emiss\u00f5es agr\u00edcolas aumentaram em 13 Estados-membros, com a Est\u00f3nia a ultraar a marca dos 30%. Com base nas proje\u00e7\u00f5es actuais, a ag\u00eancia prev\u00ea um decl\u00ednio modesto de 4% at\u00e9 2030, em compara\u00e7\u00e3o com os n\u00edveis de 2005, que poder\u00e1 aumentar para 8% se forem implementadas medidas clim\u00e1ticas adicionais. Este ritmo lento \u00e9 particularmente preocupante, tendo em conta que pelo menos 25% do aquecimento global \u00e9 provocado pelo metano, um g\u00e1s inodoro que \u00e9 80 vezes mais nocivo do que o CO2 nos primeiros 20 anos ap\u00f3s a sua liberta\u00e7\u00e3o na atmosfera. \u00a0Entretanto, os pesticidas qu\u00edmicos habitualmente utilizados para manter a produtividade das culturas s\u00e3o um fator de perda de biodiversidade, de m\u00e1 qualidade da \u00e1gua, de degrada\u00e7\u00e3o dos solos e de resist\u00eancia \u00e0s pragas, tendo sido associados a doen\u00e7as cr\u00f3nicas. Rumo \u00e0 auto-sufici\u00eancia Em rea\u00e7\u00e3o \u00e0 pandemia de Covid-19, \u00e0 guerra na Ucr\u00e2nia e \u00e0 crise energ\u00e9tica, a Comiss\u00e3o Europeia adotou a \u0022autonomia estrat\u00e9gica\u0022 como filosofia orientadora para reduzir as depend\u00eancias de fornecedores pouco fi\u00e1veis. A agricultura \u00e9 um setor muito avan\u00e7ado nesse sentido, j\u00e1 que a \u00a0UE adquiriu autossufici\u00eancia (pode satisfazer todas as suas necessidades internas atrav\u00e9s da produ\u00e7\u00e3o interna) numa vasta gama de bens que consumimos diariamente, tais como o trigo, o azeite, o tomate, as ma\u00e7\u00e3s, os p\u00eassegos, o queijo, a manteiga, a carne de vaca, a carne de porco e as aves de capoeira.\u00a0 As importa\u00e7\u00f5es ainda s\u00e3o consider\u00e1veis para o arroz, o a\u00e7\u00facar, as oleaginosas e os \u00f3leos vegetais. Isto permitiu que o bloco se tornasse uma pot\u00eancia comercial nos mercados mundiais: em 2022 , o bloco exportou 229,1 mil milh\u00f5es de euros em produtos agr\u00edcolas e importou 195,6 mil milh\u00f5es de euros, o que levou a um confort\u00e1vel excedente de 33,4 mil milh\u00f5es de euros. A exporta\u00e7\u00e3o mais valiosa da UE foi a de bebidas (incluindo as espirituosas), no valor de 39 mil milh\u00f5es de euros. No entanto, isto n\u00e3o significa que a UE esteja completamente ao abrigo der alguma escassez. Os fen\u00f3menos meteorol\u00f3gicos extremos e o aumento das temperaturas representam uma s\u00e9ria amea\u00e7a para a seguran\u00e7a alimentar e podem provocar um aumento de certas importa\u00e7\u00f5es a longo prazo. Al\u00e9m disso, alguns dos clientes do bloco est\u00e3o a desenvolver estrat\u00e9gias de auto-sufici\u00eancia e poder\u00e3o, no futuro, deixar de comprar tantos g\u00e9neros aliment\u00edcios produzidos na UE. Um relat\u00f3rio recente da Comiss\u00e3o Europeia alertava para o facto de o abrandamento econ\u00f3mico registado na China, que dever\u00e1 agravar-se devido ao r\u00e1pido envelhecimento da popula\u00e7\u00e3o, poder limitar seriamente as exporta\u00e7\u00f5es mundiais de trigo mole, milho, cevada, carne de bovino, carne de su\u00edno e a maioria dos produtos l\u00e1cteos. 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Tudo o que precisa de saber sobre os desafios do setor agrícola da UE

A agricultura contribuiu com 215,5 mil milhões de euros para o produto interno bruto (PIB) da UE em 2022.
A agricultura contribuiu com 215,5 mil milhões de euros para o produto interno bruto (PIB) da UE em 2022. Direitos de autor Emilio Morenatti/Copyright 2020 The AP. All rights reserved
Direitos de autor Emilio Morenatti/Copyright 2020 The AP. All rights reserved
De Jorge Liboreiro & Isabel Marques da Silva (Trad.)
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Os agricultores descontentes com políticas da União Europeia (UE) saíram à rua em muitos Estados-membros. Mas qual é a importância do setor agrícola para a economia do bloco? A Euronews analisa o assunto.

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Entre as principais reivindicações dos agricultores estão apoios para lidar com a crise do custo de vida, os impostos sobre os combustíveis, a regulamentação ambiental, a burocracia pesada, a concorrência desleal e os acordos de comércio livre.

O movimento espalhou-se por muitos países, nomeadamente grandes potências agrícolas tais como a Alemanha, a França, a Itália, a Espanha e a Polónia e , tendo colocado o Pacto Ecológico Europeu sob grande pressão política antes das próximas eleições para o Parlamento Europeu, em junho.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, - mentora do Pacto Ecológico Europeu, que consideras ser a política maios estratégica do seu mandato - disse perceber as queixas, elogiou o papel dos agricultores na sua dedicação e contribuição económica e prometeu prestar mais atenção às suas preocupações.

Os agricultores "trabalham arduamente todos os dias, para produzir os alimentos de qualidade que comemos. Por isso, penso que lhes devemos apreço, agradecimento e respeito", afirmou von der Leyen, recentemente, no Parlamento Europeu, quando anunciou que retirava do processo legislativo uma lei controversa sobre pesticidas.

"Os problemas agravaram-se nos últimos anos. Os nossos agricultores merecem ser ouvidos. Sei que estão preocupados com o futuro da agricultura e com o seu futuro enquanto agricultores", acrescentou.

Um setor pequeno mas vital

A agricultura é um dos meios de produção mais antigos do mundo, datando de há 12 mil anos, quando as civilizações pré-históricas aram da caça nómada para a agricultura em povoações permanentes. Nos milénios que se seguiram, a agricultura funcionou como uma importante força de progresso e ajudou a desenvolver muitas das cidades europeias que conhecemos hoje.

No entanto, com o advento da Revolução Industrial, a agricultura começou a perder progressivamente a sua importância, à medida que os países se orientavam fortemente para a indústria transformadora e, mais tarde, para os serviços.

Atualmente, o setor representa uma pequena parte da economia da UE: de acordo com o Eurostat, agência de estatísticas da UE, a agricultura contribuiu com 215,5 mil milhões de euros para o produto interno bruto (PIB) do bloco, em 2022. Em termos relativos,  significa 1,4% do PIB total, uma proporção que se manteve estável nos últimos 20 anos.

O setor colheu mais de 537 mil milhões de euros em 2022, dos quais 287,9 mil milhões de euros provenientes de culturas tais como cereais, legumes, frutas, vinho e batatas; e 206 mil milhões de euros com a venda de leite, suínos, bovinos, aves e ovos.

A França foi o maior vendedor desse ano, com 97,1 mil milhões de euros, seguida da Alemanha (76,2 mil milhões de euros), Itália (71,5 mil milhões de euros), Espanha (63 mil milhões de euros) e Polónia (39,5 mil milhões de euros).

Os custos de produção foram elevados, atingindo 316,7 mil milhões de euros em 2022, um aumento de quase 22% em comparação com o ano anterior. O aumento foi impulsionado, principalmente, pela invasão da Ucrânia pela Rússia, que fez disparar os preços da energia e dos fertilizantes para níveis recorde.

Forte concentração

Estima-se que 8,6 milhões de pessoas trabalhem no setor agrícola, o que representa 4,2% do emprego na UE. A Roménia (1,76 milhões) e a Polónia (1,46 milhões) são, de longe, os maiores empregadores. No entanto, estes números não dão uma imagem completa porque a colheita é uma atividade sazonal que emprega muitas pessoas com contratos temporários e a tempo parcial. Tendo em conta estas particularidades, o Eurostat estima a mão de obra em 17 milhões de pessoas.

O setor é orientado para os homens e está a envelhecer: a grande maioria dos gestores agrícolas são homens (68,4%) e têm mais de 55 anos de idade (57,6%). Os Países Baixos registam o maior desequilíbrio entre homens e mulheres, com apenas 5,6% dos agricultores do sexo feminino, enquanto a Letónia e a Lituânia são os países que mais se aproximam de uma proporção de 50-50.

Todos estes agricultores trabalham em 157 milhões de hectares de terras agrícolas, que, por sua vez, estão divididos em 9,1 milhões de explorações. No entanto, esta distribuição é muito desigual: cerca de 52% das terras agrícolas são controladas por 4% das explorações agrícolas, ou seja, as que têm mais de 100 hectares. Em contrapartida, as explorações de pequena dimensão, com menos de 5 hectares, utilizam apenas 6% das terras disponíveis, apesar de representarem 40% do total das explorações.

Esta forte concentração de terras reflecte a industrialização da agricultura, em que um pequeno número de empresas utiliza tecnologias, maquinaria e métodos avançados para produzir culturas em grande escala e vendê-las a nível mundial.

Milhares de milhões em subsídios

A agricultura é um negócio arriscado que está à mercê de fenómenos meteorológicos, da volatilidade da procura e da concorrência estrangeira, o que dificulta a obtenção de lucros e a atração de investimentos. Isto explica por que razão a agricultura é uma das indústrias mais fortemente subsidiadas na UE, apesar da sua contribuição minúscula para o crescimento económico.

Criada em 1962, a Política Agrícola Comum (PAC) é um programa de auxílios estatais que tem por objetivo garantir aos agricultores europeus um rendimento mínimo estável e a possibilidade de competir além fronteiras. Durante décadas, a PAC foi a razão de ser do orçamento comum, absorvendo mais de 60% de todas as despesas. Atualmente, representa um terço.

A PAC tem a dotação de 264 mil milhões de euros para o período 2023-2027, principalmente dedicada a duas linhas de ação: 189,2 mil milhões de euros para apoio ao rendimento (pagamentos diretos que compensam os agricultores) e 66 mil milhões de euros para o desenvolvimento rural, a fim de enfrentar os desafios das zonas empobrecidas.

Os pagamentos diretos não estão, fundamentalmente, ligados à quantidade de colheitas que os agricultores produzem. A Comissão Europeia argumenta que esta ligação incentivaria a sobreprodução para obter uma maior quota-parte de subsídios e desequilibrar o mercado. Em vez disso, os pagamentos são efetuados em função dos hectares (terras cultivadas) e do respeito pela biodiversidade, pelo bem-estar dos animais e pelas regras sanitárias.

A PAC é um dos elementos mais debatidos da política da UE e tem sido objeto de críticas constantes devido, nomeadamente, à sua distribuição desequilibrada (cerca de 80% do orçamento vai parar às mãos de 20% dos agricultores), à sua eficácia questionável (os rendimentos dos agricultores continuam a ser 40% inferiores aos salários médios da UE) e à distorção comercial causada em relação às regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Profusão de metano

Outra acusação recorrente feita à PAC é a sua fraca aplicação das normas ambientais. Isto porque a agricultura é um importante fator de poluição, sendo responsável por mais de 10% das emissões de gases com efeito de estufa da UE.

A Agência Europeia do Ambiente (AEA) atribui estas emissões a três fontes:

  • CH4 (metano) proveniente da fermentação entérica, que se refere ao processo digestivo dos animais ruminantes, como os bovinos, ovinos e caprinos.
  • N2O (óxido nitroso), principalmente devido à utilização de fertilizantes sintéticos à base de azoto.
  • CH4 (metano) proveniente da gestão e eliminação de estrume.

Embora o setor agrícola esteja sujeito ao objetivo global da UE de reduzir gradualmente as emissões de gases com efeito de estufa e alcançar a neutralidade climática até 2050, a redução alcançada até agora tem sido extremamente limitada.

De facto, entre 2005 e 2021, a AEA estima que as emissões agrícolas aumentaram em 13 Estados-membros, com a Estónia a ultraar a marca dos 30%. Com base nas projeções actuais, a agência prevê um declínio modesto de 4% até 2030, em comparação com os níveis de 2005, que poderá aumentar para 8% se forem implementadas medidas climáticas adicionais.

Este ritmo lento é particularmente preocupante, tendo em conta que pelo menos 25% do aquecimento global é provocado pelo metano, um gás inodoro que é 80 vezes mais nocivo do que o CO2 nos primeiros 20 anos após a sua libertação na atmosfera.

 Entretanto, os pesticidas químicos habitualmente utilizados para manter a produtividade das culturas são um fator de perda de biodiversidade, de má qualidade da água, de degradação dos solos e de resistência às pragas, tendo sido associados a doenças crónicas.

Rumo à auto-suficiência

Em reação à pandemia de Covid-19, à guerra na Ucrânia e à crise energética, a Comissão Europeia adotou a "autonomia estratégica" como filosofia orientadora para reduzir as dependências de fornecedores pouco fiáveis.

A agricultura é um setor muito avançado nesse sentido, já que a UE adquiriu autossuficiência (pode satisfazer todas as suas necessidades internas através da produção interna) numa vasta gama de bens que consumimos diariamente, tais como o trigo, o azeite, o tomate, as maçãs, os pêssegos, o queijo, a manteiga, a carne de vaca, a carne de porco e as aves de capoeira. 

As importações ainda são consideráveis para o arroz, o açúcar, as oleaginosas e os óleos vegetais.

Isto permitiu que o bloco se tornasse uma potência comercial nos mercados mundiais: em 2022, o bloco exportou 229,1 mil milhões de euros em produtos agrícolas e importou 195,6 mil milhões de euros, o que levou a um confortável excedente de 33,4 mil milhões de euros. A exportação mais valiosa da UE foi a de bebidas (incluindo as espirituosas), no valor de 39 mil milhões de euros.

No entanto, isto não significa que a UE esteja completamente ao abrigo der alguma escassez.

Os fenómenos meteorológicos extremos e o aumento das temperaturas representam uma séria ameaça para a segurança alimentar e podem provocar um aumento de certas importações a longo prazo. Além disso, alguns dos clientes do bloco estão a desenvolver estratégias de auto-suficiência e poderão, no futuro, deixar de comprar tantos géneros alimentícios produzidos na UE.

Um relatório recente da Comissão Europeia alertava para o facto de o abrandamento económico registado na China, que deverá agravar-se devido ao rápido envelhecimento da população, poder limitar seriamente as exportações mundiais de trigo mole, milho, cevada, carne de bovino, carne de suíno e a maioria dos produtos lácteos.

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