Ainda fragilizado e a recuperar da pneumonia que o deixou hospitalizado vários dias, o Papa apareceu na Varanda das Bênçãos na Praça de São Pedro. A homilia foi lida pelo Cardeal Angelo Comastri.
“Queridos irmãos e irmãs, feliz Páscoa”. Saudado com ovações pelos fiéis presentes na Praça de São Pedro, o Papa Francisco dirigiu-se no domingo à Varanda das Bênçãos para a tradicional Urbi et Orbi, a bênção à cidade e ao mundo.
Perante cerca de 35.000 fiéis presentes na Missa de Páscoa, este ano celebrada no mesmo dia para católicos e ortodoxos graças à coincidência dos calendários gregoriano e juliano, o Papa deixou que o mestre de cerimónias Monsenhor Ravelli lesse a sua mensagem pascal que precede a bênção.
"Quanto desprezo se sente por vezes pelos mais fracos, os marginalizados, os migrantes. Neste dia, gostaria que voltássemos a ter esperança e confiança nos outros, mesmo naqueles que não estão próximos de nós ou que vêm de terras distantes com costumes, modos de vida, ideias, hábitos diferentes daqueles que nos são mais familiares, porque todos somos filhos de Deus!", disse o Pontífice.
"Não há paz possível sem um verdadeiro desarmamento"
Da Faixa de Gaza à Ucrânia, de Myanmar ao Azerbaijão e aos Balcãs Ocidentais, o Papa Francisco traçou uma análise de todos os conflitos no mundo, deixando mensagens fortes: "Apelo a todos aqueles que no mundo têm responsabilidades políticas para que não cedam à lógica do medo que se fecha, mas usem os recursos disponíveis para ajudar os necessitados, combater a fome e promover iniciativas que favoreçam o desenvolvimento", disse.
Estas são as “armas” da paz: as que constroem o futuro, em vez de semear a morte!", sublinhou o Pontífice. "Não há paz possível sem um verdadeiro desarmamento. A necessidade que cada povo tem de prover à sua própria defesa não pode transformar-se numa corrida geral ao rearmamento", escreveu ainda o Papa.
No ano do Jubileu, Francisco sublinhou que “a Páscoa seja também uma ocasião auspiciosa para libertar os prisioneiros de guerra e os presos políticos”.
Situação humanitária "dramática e ignóbil" em Gaza
O pensamento do Papa "dirige-se à população e em particular à comunidade cristã de Gaza, onde o terrível conflito continua a gerar morte e destruição e a provocar uma situação humanitária dramática e ignóbil". No meio dos aplausos da praça, Francisco lançou "um apelo às partes beligerantes: cessar fogo, libertar os reféns e ajudar a população, que tem fome e aspira a um futuro de paz".
Paz para a Ucrânia atormentada e entre a Arménia e o Azerbaijão
"Que Cristo ressuscitado derrame o dom pascal da paz sobre a Ucrânia atormentada e encoraje todas as partes envolvidas a prosseguir os seus esforços para alcançar uma paz justa e duradoura", escreveu ainda o Pontífice.
Neste dia festivo, Francisco pensou também no Cáucaso Meridional: "Rezemos pela rápida e aplicação de um acordo de paz definitivo entre a Arménia e o Azerbaijão, que conduza à tão desejada reconciliação na região. Que a luz da Páscoa inspire intenções de concórdia nos Balcãs Ocidentais e apoie os actores políticos a trabalhar para evitar a escalada de tensões e crises, bem como os parceiros da região a rejeitar comportamentos perigosos e desestabilizadores".
Cardeal Comastri lê a homilia
A Páscoa fala de um Cristo ainda vivo entre nós: esta é a mensagem do Papa Francisco na homilia da Missa de Páscoa lida pelo Cardeal Angelo Comastri. "Cristo ressuscitou, está vivo! Não permaneceu prisioneiro da morte, não está mais envolto na mortalha e, portanto, não se pode encerrá-lo numa bela história a ser contada, não se pode fazer dele um herói do ado" - lê-se no texto da homilia de Bergoglio - ou pensar nele como uma estátua colocada na sala de um museu! Pelo contrário, temos de O procurar e, para isso, não podemos ficar parados. Temos de nos pôr em movimento, sair para O procurar: procurá-Lo na vida, procurá-Lo no rosto dos nossos irmãos e irmãs, procurá-Lo na nossa vida quotidiana, procurá-Lo em todo o lado, exceto naquele túmulo. Procurai-o sempre".
O Papa sublinhou que Cristo ressuscitado "habita entre nós, esconde-se e revela-se ainda hoje nas irmãs e nos irmãos que encontramos no caminho, nas situações mais anónimas e imprevisíveis da nossa vida. Ele está vivo e permanece sempre connosco, chorando as lágrimas dos que sofrem e multiplicando a beleza da vida nos pequenos gestos de amor de cada um de nós".
Depois de ler a homilia do Papa, o Cardeal Angelo Comastri agradeceu a Francisco "por este forte convite a despertar a nossa fé em Jesus que está vivo e sempre presente em nós".
Mensagem de Mattarella ao Papa
Na mensagem enviada ao Papa Francisco, o Presidente da República Italiana, Sergio Mattarella, disse ter "o prazer de lhe transmitir, em nome da República Italiana e em seu nome pessoal, os sinceros votos de uma boa e santa Páscoa". "Este ano, todas as Igrejas cristãs celebrarão na mesma data a festa mais importante do ano litúrgico. Esta coincidência, que tem um forte carácter simbólico, exorta à procura do diálogo e da unidade", escreveu ainda o chefe de Estado italiano.