O Reino Unido é o primeiro país europeu a chegar a um compromisso com os Estados Unidos. Sem falar de uma rutura da solidariedade europeia, alguns analistas consideram que este acordo envia um sinal errado.
Foi com grande entusiasmo que o presidente dos Estados Unidos saudou o acordo comercial alcançado com o Reino Unido na ada quinta-feira. Donald Trump e o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, qualificaram o acordo de"histórico".
No entanto, muitos economistas questionam o alcance deste compromisso. Uma grande parte dos produtos britânicos continuará a estar sujeita a direitos aduaneiros de 10%, ou seja, à taxa "recíproca" imposta em abril pelo líder americano, atualmente suspensa por um período de 90 dias.
A conclusão deste acordo poderá fazer parte das discussões da cimeira entre a União Europeia e o Reino Unido, a 19 de maio, em Londres. Esta conciliação poderá afetar os laços entre os dois parceiros europeus.
"Penso que vai causar uma certa irritação em Bruxelas. E não é por haver um conflito direto entre a UE e o Reino Unido. Não vai pôr em causa a relação entre a UE e o Reino Unido. Mas abre um mau precedente", afirma Aslak Berg, investigador do Centre for European Reform.
"Ao autorizar a manutenção destes direitos aduaneiros, reforça-se a legitimidade destes direitos aduaneiros, que são contrários ao direito internacional", continua. Mas o investigador considera que esta decisão"não causará danos permanentes nas relações entre a União Europeia e o Reino Unido".
A particularidade britânica
Aslak Berg salienta que o caso de Londres é único. "O Reino Unido está numa posição diferente da UE em alguns aspetos. O Reino Unido não tem um excedente comercial com os EUA, e essa é uma grande prioridade para a istração Trump".
O investigador também não deixa de referir fatores mais subjetivos. "Trump gosta do Reino Unido. Gosta de ser convidado para o Palácio de Buckingham. Gostou da visita de Estado. E ele, Starmer, encontrou uma forma de falar com Trump que lhe permitiu dar-se muito bem a nível pessoal. E isso conta muito", sorri Aslak Berg.
Este acordo entre os Estados Unidos e o Reino Unido surge numa altura em que a UE ameaça taxar 95 mil milhões de euros de produtos americanos importados para os seus Estados-membros. A Comissão Europeia acaba de lançar uma consulta sobre uma lista de mercadorias que poderão ser objeto desta tributação adicional. A lista inclui produtos alimentares, equipamento automóvel, equipamento elétrico, equipamento aeronáutico e baterias. A Comissão tenciona igualmente intentar uma ação junto da Organização Mundial do Comércio (OMC).
É precisamente em termos de direito internacional que o acordo comercial entre Washington e Londres poderá causar dificuldades à UE.
"Politicamente, não é necessariamente um sinal muito bom", adverte Ignacio García Bercero, investigador do Instituto Bruegel.
"Era uma questão importante para o Reino Unido e para a UE, juntamente com outros países, estarem em posição de serem os detentores das regras da OMC", acrescenta.
Para o investigador, o acordo alcançado entre Washington e Londres acaba por não ser muito comercial.
"Não há dúvida de que não se trata de um acordo de comércio livre. A principal coisa que o Reino Unido obteve foi um melhor tratamento relativamente às tarifas sobre o aço, o alumínio e os automóveis. Não conseguiu nada em relação aos direitos aduaneiros de 10%", afirma Ignacio García Bercero.
Os direitos aduaneiros "recíprocos" dos EUA aplicam-se a 20% dos produtos da UE. A medida foi suspensa por enquanto, mas será acrescentada ao imposto de 25% sobre os automóveis e equipamento automóvel europeus que entram nos Estados Unidos. O montante de 379 mil milhões de euros de exportações da UE para os Estados Unidos ficará assim sujeito a novos direitos aduaneiros.