{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2022/11/01/jovens-mocambicanos-insistem-no-el-dorado-sul-africano-para-oferecer-bicicletas-a-familia" }, "headline": "Jovens mo\u00e7ambicanos insistem no \u0022El Dorado\u0022 sul-africano para oferecer bicicletas \u00e0 fam\u00edlia", "description": "A ideia de que no centro de Mo\u00e7ambique n\u00e3o h\u00e1 futuro e os relatos de melhores sal\u00e1rios no pa\u00eds vizinho leva os jovens a viajar 800 quil\u00f3metros para onde muitos mo\u00e7ambicanos t\u00eam enfrentado ataques xen\u00f3fobos", "articleBody": "Machaze \u00e9 uma das regi\u00f5es mais pobres no centro de Mo\u00e7ambique e isso refor\u00e7a o sonho de procurar uma vida melhor longe de casa. Indicam as estat\u00edsticas poss\u00edveis na regi\u00e3o que 40% dos homens do distrito de Machaze emigram. Muitos deixando as esposas, que visitam uma ou duas vezes por ano, a quem trazem prendas como vestidos ou bicicletas e bid\u00f5es. Os veloc\u00edpedes e os contentores de pl\u00e1stico n\u00e3o s\u00e3o, \u00e0 primeira vista, para quem vive longe de Machaze, bens muito ambicionados. Ainda menos por mulheres. Mas nesta regi\u00e3o mo\u00e7ambicana s\u00e3o at\u00e9 luxos e diz-se mesmo que as mulheres nem aceitam casar-se se o pretendente n\u00e3o tiver ou n\u00e3o lhe oferecer uma bicicleta . J\u00e1 os bid\u00f5es s\u00e3o essenciais para poderem abastecer-se de \u00e1gua para consumo dom\u00e9stico ou para a agricultura que lhes permite subsistir enquanto os maridos trabalham longe. O destino habitual dos homens de Machaze \u00e9 a \u00c1frica do Sul, pa\u00eds vizinho no sudoeste de Mo\u00e7ambique e uma das economias mais fortes do corno de \u00c1frica. \u00c9 uma viagem de 800 quil\u00f3metros de ida e que representa o sonho de muitos jovens mo\u00e7ambicanos de Machaze. \u00c9 o caso de Santos Jo\u00e3o, que sonha formar-se em Engenharia El\u00e9trica e j\u00e1 executa alguns trabalhos para tentar financiar essa prioridade. Depois, vem a ideia de emigrar para a \u00c1frica do Sul. \u0022Com trabalhos que eu fa\u00e7o aqui em Mo\u00e7ambique posso ter um rendimento, mas n\u00e3o seria igual. O rendimento que espero ter na \u00c1frica do Sul... como dizem os que vem de l\u00e1, quem trabalhou com eletricidade, em algum momento sai mais vantajoso porque os trabalhos l\u00e1 s\u00e3o mais promissores\u0022, afirmou Santos Jo\u00e3o, em declara\u00e7\u00f5es \u00e0 Ag\u00eancia Lusa. O facto de haver muitas pessoas a viajar entre Machaze e a \u00c1frica do Sul proporcionou o estabelecimento de um terminal improvisado de transportes a ligar os dois pontos, possibilitando v\u00e1rios destinos sul-africanos com Joanesburgo, Pretoria, Cidade do Cabo ou Durban. Ainda solteira, F\u00e1tima Machava, s\u00f3 ite emigrar, diz, se o futuro marido a levar: \u0022Sonho de viajar e de ir para a \u00c1frica do Sul, n\u00e3o tenho. S\u00f3 talvez se aparecer algu\u00e9m a querer casar-se comigo. Assim posso ir para a \u00c1frica do Sul, sim.\u0022 O governo regional de Machaze compreende as ambi\u00e7\u00f5es dos jovens locais, mas tenta convence-los a ficar e a ajudar a economia local. \u0022Como membro governo, gostaria de apelar a todos os jovens residentes no nosso distrito de Machaze para abra\u00e7ar o empreendedorismo. Principalmente o agroneg\u00f3cio e a agricultura. N\u00f3s somos potenciais agora para a produ\u00e7\u00e3o do gergelim (s\u00e9samo). Na campanha ada muitos tiveram ganhos com esta produ\u00e7\u00e3o. Tamb\u00e9m produzimos a castanha de caju\u0022, afirmou a a Distrital de Machaze. Joana Guinda questiona os motivos pelos quais \u0022os jovens n\u00e3o abra\u00e7am\u0022 estas oportunidades ligadas ao potencial agr\u00edcola de Machaze. \u0022O que temos demais \u00e9 terra ar\u00e1vel e, por isso, eu desaconselho mesmo os jovens a n\u00e3o fazerem isso (ir para a \u00c1frica do Sul). \u00c9 melhor que desenvolvam o seu pa\u00eds\u0022, insiste a representante do governo mo\u00e7ambicano em Machaze. Os argumentos da governante n\u00e3o parecem, no entanto, alterar a tend\u00eancia e na regi\u00e3o continuam a aumentar as vivendas numa comunidade onde a poligamia \u00e9 aceite. As casas dos emigrantes na \u00c1frica do Sul v\u00e3o crescendo em Machaze \u00e0 medida que o respetivo n\u00famero de esposas aumenta e esse \u00e9 tamb\u00e9m um dos atrativos a puxar os jovens de Machaze para a \u00c1frica do Sul, mesmo sabendo da xenofobia sul-africana contra estrangeiros que muitos mo\u00e7ambicanos enfrentam. Em 2008, por exemplo, houve uma s\u00e9rie de ataques xen\u00f3fobos noticiados pelo Di\u00e1rio de Not\u00edcias , em Portugal, e um ano depois ainda havia v\u00e1rias fam\u00edlias a reivindicar os corpos em Machaze, onde o dinheiro para translada\u00e7\u00f5es n\u00e3o abunda. Em 2021, Esperan\u00e7a Augusto John contava ao jornal mo\u00e7ambicano \u0022Verdade\u0022 n\u00e3o saber se o marido ainda estava vivo \u0022desde que foi para a \u00c1frica do Sul em 2013\u0022. \u0022Deixou-me com barriga de dois meses e hoje (outubro de 2021) o rapaz j\u00e1 tem oito anos. Quem sabe se (o meu marido) n\u00e3o foi queimado l\u00e1\u0022, disse a mulher, com o jornal a ligar o caso, l\u00ea-se \u0022aos ataques xen\u00f3fobos que se multiplicaram nos \u00faltimos anos pela \u00c1frica do Sul.\u0022 ", "dateCreated": "2022-11-01T11:39:40+01:00", "dateModified": "2022-11-01T18:48:22+01:00", "datePublished": "2022-11-01T18:48:19+01:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F07%2F16%2F75%2F78%2F1440x810_cmsv2_9db6c455-9909-5471-9c2d-1061c86ef599-7167578.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "As mulheres de Machaze percorrem quil\u00f3metros de bicicleta ao calor para carregar bid\u00f5es de \u00e1gua", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F07%2F16%2F75%2F78%2F432x243_cmsv2_9db6c455-9909-5471-9c2d-1061c86ef599-7167578.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "author": [ { "@type": "Person", "familyName": "Marques", "givenName": "Francisco", "name": "Francisco Marques", "url": "/perfis/562", "worksFor": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "sameAs": "https://www.x.com/@frmarques4655", "jobTitle": "Journaliste", "memberOf": { "@type": "Organization", "name": "Equipe de langue portugaise" } } ], "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "Mundo" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }
PUBLICIDADE

Jovens moçambicanos insistem no "El Dorado" sul-africano para oferecer bicicletas à família

As mulheres de Machaze percorrem quilómetros de bicicleta ao calor para carregar bidões de água
As mulheres de Machaze percorrem quilómetros de bicicleta ao calor para carregar bidões de água Direitos de autor ANDRÉ CATUEIRA/LUSA
Direitos de autor ANDRÉ CATUEIRA/LUSA
De Francisco Marques & Agência Lusa
Publicado a
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

A ideia de que no centro de Moçambique não há futuro e os relatos de melhores salários no país vizinho leva os jovens a viajar 800 quilómetros para onde muitos moçambicanos têm enfrentado ataques xenófobos

PUBLICIDADE

Machaze é uma das regiões mais pobres no centro de Moçambique e isso reforça o sonho de procurar uma vida melhor longe de casa.

Indicam as estatísticas possíveis na região que 40% dos homens do distrito de Machaze emigram. Muitos deixando as esposas, que visitam uma ou duas vezes por ano, a quem trazem prendas como vestidos ou bicicletas e bidões.

Os velocípedes e os contentores de plástico não são, à primeira vista, para quem vive longe de Machaze, bens muito ambicionados. Ainda menos por mulheres. Mas nesta região moçambicana são até luxos e diz-se mesmo que as mulheres nem aceitam casar-se se o pretendente não tiver ou não lhe oferecer uma bicicleta.

Já os bidões são essenciais para poderem abastecer-se de água para consumo doméstico ou para a agricultura que lhes permite subsistir enquanto os maridos trabalham longe.

O destino habitual dos homens de Machaze é a África do Sul, país vizinho no sudoeste de Moçambique e uma das economias mais fortes do corno de África. É uma viagem de 800 quilómetros de ida e que representa o sonho de muitos jovens moçambicanos de Machaze.

É o caso de Santos João, que sonha formar-se em Engenharia Elétrica e já executa alguns trabalhos para tentar financiar essa prioridade. Depois, vem a ideia de emigrar para a África do Sul.

"Com trabalhos que eu faço aqui em Moçambique posso ter um rendimento, mas não seria igual. O rendimento que espero ter na África do Sul... como dizem os que vem de lá, quem trabalhou com eletricidade, em algum momento sai mais vantajoso porque os trabalhos lá são mais promissores", afirmou Santos João, em declarações à Agência Lusa.

O facto de haver muitas pessoas a viajar entre Machaze e a África do Sul proporcionou o estabelecimento de um terminal improvisado de transportes a ligar os dois pontos, possibilitando vários destinos sul-africanos com Joanesburgo, Pretoria, Cidade do Cabo ou Durban.

Ainda solteira, Fátima Machava, só ite emigrar, diz, se o futuro marido a levar: "Sonho de viajar e de ir para a África do Sul, não tenho. Só talvez se aparecer alguém a querer casar-se comigo. Assim posso ir para a África do Sul, sim."

O governo regional de Machaze compreende as ambições dos jovens locais, mas tenta convence-los a ficar e a ajudar a economia local.

"Como membro governo, gostaria de apelar a todos os jovens residentes no nosso distrito de Machaze para abraçar o empreendedorismo. Principalmente o agronegócio e a agricultura. Nós somos potenciais agora para a produção do gergelim (sésamo). Na campanha ada muitos tiveram ganhos com esta produção. Também produzimos a castanha de caju", afirmou a a Distrital de Machaze.

Joana Guinda questiona os motivos pelos quais "os jovens não abraçam" estas oportunidades ligadas ao potencial agrícola de Machaze.

"O que temos demais é terra arável e, por isso, eu desaconselho mesmo os jovens a não fazerem isso (ir para a África do Sul). É melhor que desenvolvam o seu país", insiste a representante do governo moçambicano em Machaze.

Os argumentos da governante não parecem, no entanto, alterar a tendência e na região continuam a aumentar as vivendas numa comunidade onde a poligamia é aceite.

As casas dos emigrantes na África do Sul vão crescendo em Machaze à medida que o respetivo número de esposas aumenta e esse é também um dos atrativos a puxar os jovens de Machaze para a África do Sul, mesmo sabendo da xenofobia sul-africana contra estrangeiros que muitos moçambicanos enfrentam.

Em 2008, por exemplo, houve uma série de ataques xenófobos noticiados pelo Diário de Notícias, em Portugal, e um ano depois ainda havia várias famílias a reivindicar os corpos em Machaze, onde o dinheiro para transladações não abunda.

Em 2021, Esperança Augusto John contava ao jornal moçambicano "Verdade" não saber se o marido ainda estava vivo "desde que foi para a África do Sul em 2013". "Deixou-me com barriga de dois meses e hoje (outubro de 2021) o rapaz já tem oito anos. Quem sabe se (o meu marido) não foi queimado lá", disse a mulher, com o jornal a ligar o caso, lê-se "aos ataques xenófobos que se multiplicaram nos últimos anos pela África do Sul."

Editor de vídeo • Francisco Marques

Ir para os atalhos de ibilidade
Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Banco Mundial vai transferir 302 milhões de euros a Moçambique

Venda de carvão faz-se de bicicleta em Moçambique

Polícia dispersa manifestação de apoio a Mondlane e faz pelo menos três mortos