Trabalhadores do sector automóvel manifestaram-se em Paris.
A chuva não impediu que centenas de trabalhadores da indústria automóvel sa e internacional protestassem na quinta-feira em frente a um dos eventos mais importantes do sector, o Salão Automóvel de Paris.
Enquanto o ministro francês para a indústria, Marc Ferracci, era visto a ear entre os mais recentes automóveis de luxo, os sindicatos denunciavam a crise sem precedentes dos fabricantes automóveis que afeta a França e a UE.
Em várias faixas, lia-se "Sob o brilho e o glamour, o saque das nossas fábricas". Num palco, vários representantes de sindicatos de países como a Alemanha, a Bélgica, os EUA e até a Turquia, resumiram, à vez, a situação desoladora do sector automóvel.
Vários intervenientes importantes, como a Stellantis (proprietária da Fiat, Opel, Peugeot, Citroën, Jeep e outras marcas), a Renault e a Valeo, têm vindo a reduzir o número de postos de trabalho na Europa e a deslocalizar-se para o estrangeiro em busca de mão de obra mais barata.
A Michelin suspendeu a produção em algumas das suas fábricas de pneus, enquanto o patrão da Stellantis, Carlos Tavares, afirmou no domingo que não exclui a possibilidade de encerrar fábricas em toda a UE.
Três fábricas pertencentes ao gigante do sector automóvel Valeo têm estado à venda nos últimos dois meses. Cerca de 1.000 pessoas estão em risco de perder os seus empregos.
"É inável. Há muito medo e muitas pessoas estão simplesmente a demitir-se. É uma fonte constante de ansiedade", afirma Jean-Rodolphe Colliaux, representante sindical da fábrica da Valeo em Suze-la-Sarthe (noroeste de França).
A fábrica produz sistemas de arrefecimento de baterias para veículos elétricos e enfrenta o risco de ser encerrada se nenhuma empresa a comprar.
Regressar e fabricar mais em França
Além disso, nos últimos anos, os veículos elétricos chineses baratos inundaram o mercado da UE e fizeram baixar os preços, à medida que mais fabricantes de automóveis chineses procuram instalar fábricas de produção e montagem na Europa.
Em retaliação, a Comissão Europeia pretende impor pesadas tarifas aos elétricos chineses. No entanto, todos os trabalhadores entrevistados pela Euronews concordam que esta não é a melhor solução.
"Os impostos como uma espécie de guerra económica, uma guerra financeira, não é solução", disse Fritz Hofmann, representante do sindicato alemão Open (Stellantis).
"Antes de criticar os chineses, é preciso que os fabricantes ses se esforcem por reduzir as suas margens de lucro. É preciso que regressem e fabriquem mais em França", explica Jean-Rodolphe Colliaux.
"Os próprios fabricantes de automóveis estão muito hesitantes em relação a estas tarifas, porque também produzem fora da Europa. Na Renault, o Dacia Spring é fabricado na China. Portanto, o problema não é a China e os seus trabalhadores", disse Christian Morel, representante sindical da Renault.
De acordo com os sindicatos, desde 2012, perderam-se cerca de 70 mil postos de trabalho na indústria automóvel em França. Estes números desanimadores fazem-se sentir em toda a Europa.
"Vemos que, na Bélgica, a empresa Audi Bruxelas vai fechar, com 3.500 pessoas a perderem o emprego", afirma Najar Lahouari, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Brabant (Bélgica).
"Mas também nos apercebemos de que em França há encerramentos. Os empregos estão a desaparecer em Itália. E é por isso que estamos aqui, porque o que estamos a ar na Bélgica é o mesmo que os outros estão a ar na Europa", disse à Euronews.
"O futuro parece-nos sombrio. Isso deve-se ao facto de a Europa não ter investido esforços e recursos suficientes no desenvolvimento da nossa indústria", disse Najar Lahouari antes de subir ao palco.
Esta sexta-feira, teve lugar outro protesto a nível nacional, desta vez em Itália, com a participação de vários sindicatos europeus.